quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Reminiscências


Todos eram muito simpáticos, educados e bonitos. Estavam vindo de João Pessoa/PB, mais eram naturais do Paraná, e iam ser mais um vizinho nosso na vila militar, o que nos chamou atenção era a quantidade de filhos, eram quatro moças lindas e mais oito irmãos de todas as idades, terminando em um bebê de quase um ano, mais pela mocidade dos pais e um grande amor que os unia, parecia que ainda não estavam dispostos a encerrar.
O trabalho que eles tinham era em fazer os bebês, quando nascia já tinha uma das moças pra cuidar escolhida pela mãe, quem não gostava muito era a próxima escolhida que ficava rezando para que o tal bebê ficasse mais um pouco lá por cima.
Voltamos ao casal, aproveitavam a vida adoidado, iam à praia diariamente, saiam bem cedo pro maridão não perder o expediente no quartel, aos sábados e domingos passeavam explorando as cidades próximas, conhecendo tudo, talvez por serem do sul do país tivessem tanto interesse em conhecer além das cidades a nossa cultura. O transporte usado por eles era a sua lambreta.
Enquanto as crianças se tivéssemos também uma em casa com certeza ganharíamos mais uma ou duas, o que valia a pena, que eram uma boa companhia para os nossos filhos, ninguém reclamava, eles chegavam de manhã cedo, almoçavam conosco e só iam pra casa quinze minutos antes das 18h00min, depois explico o porquê.
Eles causaram uma verdadeira revolução na cultura da nossa vila militar, nós tínhamos o nosso teatro, onde também eram exibidos filmes, foram adaptados de alguns galpões que estavam disponíveis, eram ao todo três. Um ficou sendo uma espécie de mercearia, onde tínhamos quase tudo que precisássemos para a nossa manutenção, e o terceiro foi dado para a “grande família” adaptar um lar.
Eles passaram a fazer parte do elenco dos "nossos artistas", tinha o declamador, os humoristas e junto com os nossos formaram um conjunto musical, apresentando-se nas festinhas organizados pelo nossos filhos, e os menores viraram "anjos" desfilando na procissão, participando das noites de Maio e da festa do nosso padroeiro que era São José.

Quando se aproximava as 18h00min, todos iam para casa, às vezes levando os amiguinhos que os hospedara durante o dia.
As 18h00min começavam o terço rezado diariamente tendo o pai como condutor, acompanhado de toda a família e os garotos como convidados, só tinha uma exigência, que ficassem de joelhos ou em pé, ninguém podia ficar sentado.
Minha filha que às vezes acompanhavam a amiguinha, a mais moça dela "sapeca”, descrevendo o altar dizia: “Mamãe além dos santos, tem uma cabeça pelada com os dentes de fora". Vindo saber depois tratar-se de um amigo querido da família, onde ele desejou ficar com o crânio e o foi concedido! Quanto a ele, nós os vizinhos chegamos à conclusão, que foi um padre frustrado, preso nas artimanhas do amor, depois do terço os pais iam passear, talvez assistir a um filme, ninguém sabe ao certo.
Toda criança gosta de brincar, todos nós sabemos, ainda mais com tanto espaço, naquela época o que estava em voga era "polícia e ladrão" sempre os que estavam do lado deles ganhavam. O motivo?Um dia passando lá em frente de casa como a gritaria tava muito grande, sai para ver do que se tratava, quando sai, vi uma vizinha também olhando e sai correndo, o motivo era a "caveira", era como eles a chamavam, que um dos meninos conduzia, e os outros corriam assustados, os mais velhos diziam: "Coitado dessa criatura, nem depois de morto tem sossego!"
Depois da bricandeira eles a colocavam no mesmo lugar junto aos santos.
Eu acho até que se o finado tivesse um pouco de humor, deveria gostar, além das vibrações pelas preces, a maioria crianças, ainda tinham a chance de brincar com eles.
Sinto saudade de tudo isso, das amigas queridas que lá deixei, e as minhas filhas já tão na idade de valorizarem o passado, às vezes elas me dizem: que tempo bom não foi mãe? Eu respondo foi sim filha.

Paz para todos!

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